É possível viver a vida sem mentir? O assunto “mentira” é tão corriqueiro, que pouco se fala a respeito, a não ser no seu dia comemorativo. O que poderíamos aprender sobre esse tema que perpassa a vida cotidiana? Nenhum tipo de avaliação moral se tenciona fazer aqui, e deixamos para as religiões o trabalho de condenar a sua manifestação, e à Filosofia, a análise das motivações humanas para a sua existência ubíqua.
Todos mentem. A mentira nasce e cresce desde a infância. E segue na vida adulta até a velhice. Mais do que constatar essa obviedade, é mais produtivo entender as consequências da mentira. Ela pode ser pequena, média ou grande, esporádica ou compulsiva, intencional ou involuntária, mas as consequências do ato de mentir merecem a nossa atenção.
Quando alguém mente, vai enfraquecendo a sua noção da realidade. E chega a viver uma vida imersa em renovadas mentiras para manter esse mundo de pé. Quando um indivíduo mente, vai enfraquecendo a confiança que as outras pessoas depositam nele, a ponto de não ser mais merecedor de uma nova chance. A mentira pode transformar-se num vício, e dele muitas ocupações se nutrem. “A arte é uma mentira em busca da verdade”, disse o pintor Pablo Picasso. Entretanto, algumas pessoas podem usar a mentira para propósitos menos nobres como ludibriar, levar vantagens, enganar, locupletar-se.
Você consegue diferenciar as pessoas pela mentira que elas contam? Você consegue conviver com as suas próprias mentiras inconfessadas? Você mente além do necessário ou se mantém perseguindo genuinamente a verdade? Você desistiu e sucumbiu à tentação da mentira deslavada? Fale a verdade, não minta agora. Ou minta.
Hoje, no Dia da Mentira, que todos possam aprender mais sobre as consequências da mentira. As relações duradouras não permitem grandes mentiras. As relações saudáveis não resistem ao somatório de pequenas mentiras. A mentira por ignorância é tolerável, mas, segundo Bertolt Brecht, “a mentira que nega a verdade é criminosa”. Que possamos todos viver a vida com as pequenas mentiras inevitáveis, mas esporádicas, porque ninguém é perfeito, e as circunstâncias são diversas, mas que a verdade seja sempre a nossa busca permanente.
Médico psiquiatra e coach
MARCOS FERREIRA